POR QUE NÃO DEVEMOS SER JULGADOS POR CAUSA DE SÁBADOS

                      
Parece estranha a afirmação? Mas é justamente o que dizem os seguintes versos:


"Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo." (Colossenses 2:16-17).

“(...) aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, (...)” (Efésios 2:15).
                   
                        Antes de iniciarmos uma análise desses versículos é importante ter em mente que “muitos grupos cristãos fazem uma distinção entre as leis “cerimoniais” (regulamentos que ensinam o plano da salvação por meio de símbolos e práticas rituais), “leis civis” (instruções relativas à vida comunitária do antigo Israel), e leis “morais” (instruções acerca do padrão divino de conduta para a humanidade)”.

                     “O livro de Levítico, por exemplo, apresenta grande quantidade de leis cerimoniais, especialmente no que diz respeito ao serviço do santuário e seus rituais. A natureza das leis civis e o princípio da justiça subjacente a elas podem ser vistos, por exemplo, em Êxodo 23:1-9. Depois, há a lei moral, os Dez Mandamentos, ainda considerada pela maioria dos cristãos (pelo menos em teoria) como a lei de Deus para toda a humanidade”[1].

                    O rol previsto em Colossenses 2 enquadra-se na tipificação tanto das “leis civis” quanto “cerimoniais”. Já Efésios 2:15 confere um peso maior às leis cerimoniais. Mas ambos excluem de seu contexto as leis morais divinas.

                    Não obstante essa prévia delimitação conceptual e terminológica, ambas as passagens em epígrafe nos falam sobre ordenanças ou decretos que eram uma sombra das coisas por vir, em virtude de simbolizarem realidades espirituais que somente poderiam ser cumpridas em Cristo.  E deste modo existiram mandamentos que tinham haver tão só com os tipos e sombras que apontavam para o concreto cumprimento das profecias relacionas ao Messias.

                    Aquelas coisas que ilustravam Seu sacrifício vicário por nós eram as ordenanças do velho sistema judaico. Tais mandamentos na forma de ordenanças exigiam que fosse trazido um cordeiro sacrifical, e após o pecador confessar os seus pecados transferindo a culpa para o animal, era então o mesmo imolado e o seu sangue aspergido no altar. Comentando sobre tais leis cerimoniais ou ordenanças, uma autora cristã escreveu as seguintes palavras:

“Para muitos, tem sido um mistério por que tantas ofertas sacrificiais eram requeridas na velha dispensação, por que tantas vítimas sangrentas eram levadas ao altar. Mas a grande verdade que era mantida perante os homens, e impressa na mente e no coração era esta: `Sem derramamento de sangue, não há remissão.´ Heb. 9:22. Em cada sacrifício cruel estava tipificado `o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo´. João 1:29.”
“Foi Cristo mesmo o Originador do sistema judaico de culto, pelo qual, mediante tipos e símbolos, as coisas espirituais e celestiais eram vistas na forma de sombras.”
“Havia uma lição incorporada em cada sacrifício, impressa em cada cerimônia, solenemente pregada pelo sacerdote em seu santo ofício, e inculcada pelo próprio Deus – que somente pelo sangue de Cristo há perdão de pecados”
                     
                    Outros mandamentos desta espécie – leis cerimoniais – tinham haver também com o ofício e rituais próprios dos tempos do velho testamento. Mas o ponto nodal consiste em que todas essas ordenanças foram dadas ao povo de Deus só até que Cristo viesse. Ele era a Realidade para a qual todas essas ordenanças e símbolos apontavam. Deste modo, quando Cristo morreu na cruz do calvário como o verdadeiro sacrifício, então todos os símbolos que o representavam até então (a exemplo dos cordeirinhos sacrificados para propiciação dos pecados da nação judaica e o serviço no santuário) alcançaram o seu pleno cumprimento e cessaram de existir.

                    Isso porque eles alcançaram o propósito para qual foram designados: serem uma espécie de modelo didático para que a nação judaica pudesse compreender as verdadeiras realidades para as quais os mesmos apontavam. E essa realidade é Jesus Cristo, o verdadeiro “Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo”. Todo o plano da Salvação foi exemplificado para os Judeus mediante esses mandamentos na forma de ordenanças. Deste modo, ao observarmos o serviço dos sumo sacerdotes judaicos a interceder pela nação de Israel, por exemplo, vemos uma figura ou sombra de uma das funções que Cristo iria desempenhar ao ressuscitar e entrar no Santuário que existe lá nos céus, o qual não houvera sido feito por mãos humanas como o terrestre (Hebreus 8:1-5).

                    "Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus; nem ainda para se oferecer a si mesmo muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no Santo dos Santos com sangue alheio. Ora, neste caso, seria necessário que ele tivesse sofrido muitas vezes desde a fundação do mundo; agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado." (Hebreus 9:24-26).

                    Com efeito, Moisés foi ordenado a construir um santuário terrestre (para refletir em pequena escala o santuário do Céu, que o Senhor fundou e não o homem) que era uma mera “figura” ou sombra de um modelo visto nos céus. E Jesus obteve, enquanto o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo, um sacrifício mais que suficiente para “aniquilar de uma vez por todas” o pecado de toda a humanidade. O tipo (os cordeirinhos imolados do sistema judaico) encontrara o seu antítipo (o Cristo). Daí porque Paulo mencionar que Ele “aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças”, vez que o objetivo das ordenanças relativas aos rituais do tabernáculo terrestre se cumpriu na pessoa de Jesus e, consequentemente, não mais seriam as mesmas exigíveis. Comentando a respeito desta abolição de leis cerimoniais, uma escritora cristã nos relata que

 “Ao irromper dos lábios de Cristo o grande brado: `Está consumado´ (João 19:30), oficiavam os sacerdotes no templo. Era a hora do sacrifício da tarde. O cordeiro, que representava Cristo, fora levado para ser morto. Trajando o significativo e belo vestuário, estava o sacerdote com o cutelo erguido, qual Abraão quando prestes a matar o filho. Vivamente interessado, o povo acompanhava a cena. Mas eis que a Terra treme e vacila; pois o próprio Senhor Se aproxima. Com ruído rompe-se de alto a baixo o véu interior do templo, rasgado por mão invisível, expondo aos olhares da multidão um lugar antes pleno da presença divina. Ali habitara o shekinah. Ali manifestara Deus Sua glória sobre o propiciatório. Ninguém, senão o sumo sacerdote, jamais erguera o véu que separava esse compartimento do resto do templo. Nele penetrava uma vez por ano, para fazer expiação pelos pecados do povo. Mas eis que esse véu é rasgado em dois. O santíssimo do santuário terrestre não mais é um lugar sagrado.”
“Tudo é terror e confusão. O sacerdote está para matar a vítima; mas o cutelo cai-lhe da mão paralisada, e o cordeiro escapa. O tipo encontrara o antítipo por ocasião da morte do Filho de Deus. Foi feito o grande sacrifício. Acha-se aberto o caminho para o santíssimo. Um novo, vivo caminho está para todos preparado. Não mais necessita a pecadora, aflita humanidade esperar a chegada do sumo sacerdote. Daí em diante, devia o Salvador oficiar como Sacerdote e Advogado no Céu dos Céus. Era como se uma voz viva houvesse dito aos adoradores: Agora têm fim todos os sacrifícios e ofertas pelo pecado. O Filho de Deus veio, segundo a Sua palavra: `Eis aqui venho (no princípio do Livro está escrito de Mim), para fazer, ó Deus, a Tua vontade´. Hebreus 10:7. `Por Seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção´ Hebreus 9:12”.

JESUS É O VERDADEIRO SUMO SACERDOTE A INTERCEDER POR NÓS JUNTO AO PAI


Surpreendentes declarações bíblicas, porém estranhamente ignoradas no mundo cristão. A própria bíblia expressamente nos declara que o nosso Senhor não só desempenhou o papel de “Cordeiro de Deus” como também agora oficia num santuário celestial do qual o terrestre erigido por Moisés houvera sido apenas uma espécie de maquete ilustrativa das realidades – que excedem todo o entendimento humano, frise-se – concernentes ao Plano da nossa eterna Redenção em Cristo Jesus. 

                     O livro de Hebreus enfaticamente assim nos declara que Jesus é o verdadeiro Sumo Sacerdote (Hebreus 2:17; 3:1; 4:14) e não uma mera sombra como o foram os que oficiavam no santuário terrestre. O profeta Zacarias predisse que Jesus seria um sacerdote em seu trono, isto é, Jesus seria tanto sacerdote quanto rei ao mesmo tempo (Zacarias 6:12-13). Jesus nasceu judeu, descendente de Davi e, assim, da linhagem da tribo de Judá. Contudo, Deus escolheu os descendentes de Levi para serem sacerdotes. Assim Jesus, vivendo sob a Lei de Moisés, poderia ser rei porque era da tribo real (Judá) e ainda mais da de Davi (veja 2 Samuel 7:12-16; Atos 2:29-31). Mas Jesus não poderia ser um sacerdote segundo a Lei de Moisés porque não era da tribo certa. O escritor de Hebreus afirma que Jesus era sumo sacerdote segundo uma ordem diferente, não segundo a ordem de Arão (ou da tribo de Levi), mas segundo a ordem de Melquisedeque (5:6,10; 6:20). 

                     “A obra sacerdotal de Jesus é explicada pelo escritor de Hebreus em termos de atos do sumo sacerdote levita no Dia da Expiação. Exatamente como o sumo sacerdote levita entrava no Santo dos Santos do tabernáculo, isto é, na presença de Deus, com sangue para fazer a expiação pelos pecados, assim Jesus entrou no Santo dos Santos com sangue (9:11-12). Mais ainda, Jesus não ofereceu seu sangue num tabernáculo físico, feito por mãos humanas. Ele ofereceu seu sangue na presença de Deus, no céu.” 

                     “No Dia da Expiação, o derramamento de sangue realmente acontecia fora do Santo dos Santos. Os animais eram mortos e o sangue deles recolhido no pátio do tabernáculo. O sumo sacerdote então oferecia o sangue a Deus quando o aspergia em frente do propiciatório. De modo semelhante, o sangue de Jesus foi derramado na cruz, fora do Santo dos Santos celestial (o pátio do verdadeiro tabernáculo que existe no céu foi o planeta Terra, onde Jesus, o Cordeiro de Deus, fora imolado). Ele foi sepultado e no terceiro dia ressurgiu. Depois de 40 dias ele ascendeu ao céu, em sentido figurado, e apresentou seu sangue diante de Deus. É fácil observar a importância da ressurreição a este respeito. Ainda que o sangue seja derramado em sua morte, Jesus realmente ofereceu seu sangue ao Pai quando ascendeu ao céu depois de sua ressurreição (João 20:17; Atos 1:9-10).[2] 

                     João Calvino denominou essa obra de intercessão de Cristo como sendo a “aplicação contínua de Sua morte para nossa salvação”, e é dito que “a existência de um santuário celestial era um padrão teológico entre os clérigos puritanos”. Não é difícil perceber por que a obra de intercessão de Cristo deve ser vista como um ensinamento tão importante. 

                     Considere quanto do Antigo Testamento está centralizado em torno do santuário e do templo. Pense em quanto do Novo Testamento também está relacionado ao santuário! O que isso deve nos dizer sobre a importância dessa doutrina?


Dessarte, “a intercessão de Cristo no santuário celestial, em favor do homem, é tão essencial ao plano da redenção como foi Sua morte sobre a cruz. Pela Sua morte, Ele iniciou a obra para cuja terminação ascendeu ao Céu, depois de ressurgir. Pela fé devemos penetrar até o interior do véu, ‘onde Jesus, como Precursor, entrou por nós’ (Hb 6:20). Ali se reflete a luz da cruz do Calvário. Ali podemos obter percepção mais clara dos mistérios da redenção. A salvação do homem se efetua a preço infinito para o Céu” (Cf. O Grande Conflito, p. 489).


O QUE S. PAULO QUIS DIZER QUANTO A NÃO DEVERMOS SER JULGADOS POR CAUSA DE SÁBADOS


                     Colossenses 2 também se refere a aspectos cerimoniais. Ali são mencionados alguns dias festivos especiais e dias de solene celebração conectados com os serviços e cerimoniais do velho santuário terrestre; os quais, conforme vimos acima, não eram senão sombras das verdadeiras realidades espirituais que alcançaram pleno cumprimento em Cristo Jesus e por isso cessaram de existir.

                     E porque o povo do antigo Israel era comandado a descansar nestes dias festivos especiais, esses dias eram considerados então como “sábados” (a palavra “sábado” tanto no novo quanto no velho testamento significava “descanso”). É possível facilmente se lembrar da menção desses dias na bíblia: a páscoa judaica, o pentecostes, o dia da expiação, a festa dos tabernáculos et cetera. Esses dias eram apenas sombras de Jesus.
                     Por exemplo, Jesus foi a verdadeira expiação, assim, quando o Seu sacrifício na Cruz do Calvário foi feito, e o seu grito “Está pago!” ribombou pelo universo, não mais foi necessário que o dia festivo chamado “dia da expiação” fosse mantido. Igualmente, Jesus é o verdadeiro Cordeiro Pascal, e deste modo, após o Seu sacrifício, os serviços do dia festivo da Páscoa judaica também tiveram de cessar.

A páscoa judaica do sábado (que deveria ser perpetuamente observada como um feriado nacional pelo povo de Israel) era uma celebração do livramento do povo de Deus do cativeiro egípcio. Também apontava claramente para o fato de ter sido somente pelo sangue de Cristo, o qual houvera sido simbolicamente aspergido nas portas das casas da comunidade de Israel, que fora a nação assim completamente poupada e livrada não só da ação do anjo destruidor, como igualmente, dos egípcios que os escravizavam. Deste modo, a solenidade festiva anual denominada de “sábado” (que não se confunde, frise-se, com o sétimo dia de descanso semanal) era um símbolo ou uma sombra do poder redentivo do SENHOR quando Ele iria mediante Seu Ungido, Jesus Cristo, nos poupar não só da destruição eterna destinada ao diabo e seus anjos (pois o salário do pecado é a morte) como também nos libertar do poder escravizante do pecado.

                     Percebemos assim que os sábados mencionados em colossenses 2 em conjunto com os mandamentos na forma de ordenanças referidos em Efésios 2:15 foram cravados na Cruz e então abolidos. Isso foi o que Paulo quis dizer quanto a nenhum dos novos cristãos convertidos de sua época deverem ser julgados por causa de não observarem essas festividades sabáticas ou ordenanças tais como a circuncisão, uma vez que eram tão só sombras “das coisas que haviam de vir (Jesus)”.

                     Esses cerimoniais sabáticos ou dias festivos ocorriam apenas uma vez ao ano, guardando similaridade com os nossos próprios dias festivos ou feriados nacionais, a exemplo do dia 07 de setembro (Independência do Brasil) ou 15 de novembro (Proclamação da República)[3].  Mas o Sábado, o sétimo dia do ciclo semanal, por não ser uma das sombras ou símbolos que apontavam para as verdadeiras realidades em Cristo Jesus, não foi incluído pelo apóstolo Paulo na relação descrita em Colossenses 2:16-17.

                     Podemos facilmente concluir então que o sétimo dia do ciclo semanal, o Sábado, o memorial da Criação, nunca foi classificado como um dentre aqueles temporários sábados cerimoniais anuais. Isso porque ele nunca foi um tipo ou uma das sombras que apontavam para Jesus, não sendo assim elencado, portanto, dentro dos “mandamentos na forma de ordenanças” que foram cravados na Cruz.

                     Comentando sobre o assunto, J. Skinner, abalizada autoridade evangélica, reitor do Colégio de Westminster (Cambridge), anota: "O nome sábado podia ser aplicado a qualquer época sagrada como tempo de cessação de trabalho e assim é usado com relação ao Dia de Expiação, o qual era observado anualmente, no décimo dia do sétimo mês. Levítico 16:31; 23:32. Nos livros proféticos e históricos, 'sábados' e 'Luas Novas' estão associados de tal modo a sugerir serem ambos festividades lunares. Amós 8:5; Oséias 2:11 e Isaías 1:13.[4]"
                     E também com propriedade, Alfred Edersheim, escritor de nacionalidade judaica, convertido ao protestantismo, profundo conhecedor da lei Cerimonial, referindo-se à festa dos Tabernáculos, diz: "O primeiro dia da festa e também o oitavo (ou Hzereth) eram dias de santa convocação e eram também um sábado, mas não no sentido do sábado semanal, senão de um festivo descanso diante do Senhor em que nenhuma obra servil de qualquer espécie podia ser feita.[5]"

                     Deste modo, há uma diferença bem definida entre os Dez Mandamentos, os quais são mandamentos eternos e morais por serem uma transcrição do caráter divino, e, por outro lado, aqueles mandamentos consistentes em ordenanças mencionados em Efésios 2:15. Porquanto, como vimos acima, estes últimos tinham haver tão-só com “os rituais cerimoniais que Deus estabeleceu, os quais simbolizavam o evangelho para eles (judeus), e compunham-se de ordenanças como: ofertas diversas, holocaustos, abluções, sacrifícios, dias anuais de festas específicas e deveres sacerdotais. E tais ordenanças foram registradas na Lei de Moisés [Lei Cerimonial], não na Lei de Deus [Lei Moral]. (II Crônicas 23:18; II Crônicas 30:15 a 17; Esdras 3:1 a 5)”.

                     “Todo o cerimonialismo, representava Cristo. Todos os estatutos e leis cerimoniais que eram realizados pelos judeus apontavam para Ele. Todas as coisas realizadas representavam o sacrifício, o perdão e a salvação realizados por Cristo na cruz”[6]. 

                     Ante o exposto, podemos com o apostolo Pedro concluir que, aparentemente, nas epístolas de S. Paulo existem “certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles” (2 Pedro 3:16). Isso porque em “hermenêutica (a ciência de interpretação bíblica) é evidente que um texto sem um contexto é um pretexto. Da mesma forma como a gravação de uma fita pode ser editada para fazer o alto falante dizer tudo o que o editor desejar, assim as Escrituras podem ser manipuladas para satisfazer a fantasia ou predisposição de uma pessoa.”


[1] Cf. CRESCENDO em Cristo. Casa Publicadora Brasileira, S.l., s. d. Disponível em:< http://www.cpb.com.br/htdocs/periodicos/licoes/adultos/2012/li1042012.html> Acesso em 06 Jul. 2013.
[2] Cf. JESUS: Perfeito Sumo Sacerdote. estudosdabiblia.net, S.l., s. d. Disponível em: <http://www.estudosdabiblia.net/d48.htm> Acesso em 06 Jul. 2013.
[3] “Por exemplo, em Levítico 16:29 a 31, que fala do Dia da Expiação - festa nacional judaica, extraímos: "... no sétimo mês, aos dez dias do mês, afligireis as vossas almas, nenhuma obra fareis... Porque, naquele dia, se fará expiação por vós... É um sábado de descanso para vós..." Aqui está claramente aplicado o termo sábado a uma festa anual, que se iniciava invariavelmente no décimo dia do sétimo mês. Portanto distinto do dia de repouso semanal, porque necessariamente recaía em dia diferente da semana.”
[4] Cf. J. Skinner, art. "Sabbath." Hasting's Biblie Dictionary, pág. 807.
[5]    Cf. A. Edersheim, Festas de Israel, pág. 86.
[6] Cf. DISTINÇÃO de Leis. jesusvoltara.com.br, S.l., s. d. Disponível em: < http://www.jesusvoltara.com.br/selo/distintas.htm> Acesso em 06 Jul. 2013.

Como Jesus Ensinava a Verdade

E a vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. (João 17:3)

Se Cristo julgasse necessário, Ele poderia ter revelado aos Seus discípulos os mistérios que obscurecem e colocam fora do alcance da visão todas as descobertas da mente humana. Ele poderia ter apresentado os fatos pertinentes a cada assunto que vai além da lógica humana, sem, contudo, distorcer a verdade em qualquer aspecto. Ele poderia ter revelado aquilo que é desconhecido, aquilo que ampliaria ao máximo a imaginação e teria atraído os pensamentos de sucessivas gerações até o fim da história da Terra. Ele poderia ter aberto as portas dos mistérios que a mente humana busca em vão abrir. Ele poderia ter apresentado aos seres humanos uma árvore do conhecimento de onde eles poderiam colher frutos através dos séculos; mas essa obra não era essencial para a salvação deles, e o conhecimento do caráter de Deus era necessário para seus interesses eternos.

                    Jesus, o Senhor da vida e da glória, veio plantar a árvore da vida para a família humana, e convidar os membros da raça caída a comer e se satisfazer. Ele veio lhes revelar aquilo que era a única esperança deles, sua única felicidade, tanto neste mundo quanto no porvir. Ele não permitiu que nada desviasse a atenção dEle da obra que veio realizar.

                    Jesus viu que as pessoas precisavam ter a mente atraída a Deus, para que pudessem se familiarizar com o caráter dEle e obter a justiça de Cristo, representada em Sua santa lei. Ele sabia que era necessário que os seres humanos tivessem uma representação fiel do caráter divino, para que não fossem enganados pela representação falsa de Satanás, que lançou sua sombra infernal no caminho dos homens e na mente deles revestiu Deus com suas características satânicas.

                    Por mais importantes e sábios que os mestres deste mundo tenham sido considerados em seus dias ou sejam considerados em nosso tempo, em comparação com Ele, não são dignos de admiração, pois toda a verdade ensinada por eles foi tão somente aquela originada por Ele, e tudo o que vem de qualquer outra fonte é insensatez. Até mesmo a verdade que eles ensinaram, nos lábios de Cristo foi embelezada e glorificada, pois Ele a apresentou com simplicidade e dignidade (Signs of the Times, 1º de maio de 1893).

QUEM?

Quem subirá ao monte do Senhor?
Quem há de permanecer no Seu santo lugar? (Sal. 24:3)
                   
                    O drama que Rudy vivia é o drama de muitos cristãos. Ele sabia tudo aquilo que devia fazer e conhecia também o que não devia fazer. Sua tragédia consistia no fato de não conseguir viver à altura dos princípios que conhecia, por mais que se esforçasse por fazê-lo. Ultimamente tinha chegado à conclusão de que era “impossível” viver a vida cristã.
 
                    O Salmo 24, do qual tiramos o texto para hoje, era cantado antifonalmente, enquanto a arca era levada para Jerusalém. Os sacerdotes perguntavam cantando: “Quem subirá ao monte do Senhor?” E o povo respondia em coro: “O que é limpo de mãos e puro de coração” (versos 3 e 4).
 
                    Embora o monte santo naquele tempo fosse Sião, ele simboliza sem dúvida nenhuma o Céu. Neste sentido, a pergunta seria: “Quem subirá ao Céu com Jesus para permanecer eternamente na presença do Pai?” A resposta é um requisito impossível de ser cumprido da perspectiva humana: “O puro de coração”.
 
                    Você pode limpar seu corpo, lavar suas vestes, desinfetar sua pele; mas, e o coração? Em certa ocasião, Deus afirmou através de Jeremias: “Pelo que ainda que te laves com salitre e amontoes potassa, continua a mácula da tua iniquidade perante Mim”.
 
                    Ninguém neste mundo pode purificar o coração e as intenções íntimas. A cultura e a educação humanas podem ajudar-nos a disfarçar, aparentar e dissimular os desejos ocultos. Podem refinar as nossas atitudes externas, mas não podem purificar o coração. E na presença do Senhor só permanecerão os limpos de coração. Ao santo monte só subirão os puros na intimidade de suas intenções.
 
                    Quando Jesus falou aos Seus discípulos acerca das mansões celestiais que Ele iria preparar, Tomé perguntou ansioso: “Como saber o caminho?” A resposta foi: “Eu sou o caminho,... ninguém vem ao Pai senão por Mim.” João 14:5 e 6. Só Deus nos qualifica para entrar na presença do Pai. Tudo o que você e eu precisamos fazer é ir a Jesus e viver em comunhão com Ele.
 
                    Por isso, diante da pergunta: “Quem subirá ao monte do Senhor? Quem há de permanecer no Seu santo lugar?” Responda: Pela graça de Jesus, e em Seu nome, espero estar lá. (Cf. BULLÓN, Alejandro. Meditações diárias: janelas para a vida. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2011. p. 274)
 

Atributos de Deus

Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da Tua face? (Sal. 139:7)

                    John Arrowsmith, pregador do século XVII, conta numa de suas exposições que um filósofo ateu lhe perguntou: “Onde está Deus?” Ele respondeu: “Primeiro me responda: Onde não está?”
 
                    O salmo do qual extraí o verso de hoje tem como tema central o relacionamento entre Deus e a criatura, e destaca os três atributos divinos: onisciência, onipresença e onipotência. É fundamental para o ser humano reconhecer esses atributos para desfrutar uma vida sadia. Se eu tenho a certeza de que Deus sabe tudo, não há razão para esconder segredos que muitas vezes sufocam e envenenam meu coração. Por que não buscar o maior psicanalista, Jesus, que, além de ouvir, tem a capacidade de perdoar e entregar uma folha em branco para escrever uma nova história?
 
                    Se eu sei que Deus é todo-poderoso, Sua onipotência tirará o medo do meu coração. Por mais difíceis que sejam as circunstâncias, por mais impossíveis que pareçam as soluções para o drama que vivo, sei que Deus Se levantará em meu favor e me tirará do mar de problemas em que estou submerso.
 
                    Finalmente, se tenho consciência de Sua onipresença, me perguntarei como o salmista: “Para onde me ausentarei? Para onde fugirei?” Isto me livrará de cair no terreno espinhoso de uma vida incoerente. O resultado será paz e equilíbrio psicológico.
 
                    Não existe nada mais destrutivo do que a penumbra que envolve a vida de quem pretende esconder-se de Deus. Não são trevas, porque nas trevas moram aqueles que extirparam a Deus de sua vida. Estes não enxergam mais nada e, em consequência, vivem como se estivessem anestesiados.
 
                    A penumbra é terrível porque você vive no limite do dia e da noite. Tomara que seus olhos não vissem nada, mas veem. Silhuetas, sombras, figuras sem forma que o assustam e paralisam a vida. A penumbra é capaz de enlouquecer uma pessoa. Procure a luz.
 
                    Este é um novo dia para você e para mim. Permitamos que o Sol da Justiça entre definitivamente pelas janelas da vida, trazendo a oportunidade de recomeçar tudo, porque: “Para onde me ausentarei do Teu Espírito? Para onde fugirei da Tua face?” (Cf. BULLÓN, Alejandro. Meditações diárias: janelas para a vida. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2011. p. 53)

O Perfil de Deus

Antes de tudo, far-se-á mister ter em mente algumas breves considerações. Observe as seguintes palavras de Jesus:

Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir.(Mat. 5:17)

Destaco isso porque, em determinada ocasião, um irmão adepto da teoria antinomista (dos que sinceramente acreditam que a lei moral divina fora ab-rogada) me disse algo surpreendente: “a vida de Jesus foi uma concretização da lei do Pai, pois esta fora por Ele exemplificada no seu mais pleno sentido”.

Apesar de contraditoriamente concluir depois algo inteiramente oposto à asserção supra, não deixa de ser um tipo de reconhecimento da realidade de que Jesus não poderia mesmo ter sido um Cordeiro sem mácula acaso falhasse no dever de obediência à vontade do Seu Pai. O apóstolo Paulo enfaticamente nos diz que

“durante a sua vida aqui na terra, Cristo, em voz alta e com lágrimas, fez orações e súplicas a Deus, que o podia salvar da morte. E as suas orações foram atendidas porque ele era dedicado a Deus. Embora fosse o Filho de Deus, ele aprendeu, por meio dos seus sofrimentos, a ser obediente. E, depois de ser aperfeiçoado, ele se tornou a fonte da salvação eterna para todos os que lhe obedecem.” (Hebreus 5:7-9 NTLH)                    
                    Bem sabemos que o salário do pecado é a morte, e o apóstolo S. João claramente o definiu como sendo a transgressão da Lei moral divina (1 João 3:4).

                    Tendo isso em mente, o Salvador garantiu que Ele não veio para mudar a Lei, tornando assim o plano de salvação algo incoerente. Afinal, por que pagar a dívida por nossa “desobediência” em virtude de uma Lei que poderia ser mudada?

                    Ele veio assim para cumprir a Lei (que nesse texto se refere aos escritos de Moisés) no sentido de dar a ela o seu verdadeiro significado e mostrar a amplitude espiritual dela. Esse é o significado do termo grego para “cumprir” (pleroo).

                    Sob este aspecto, ao lidar com simples mandamentos como o “não matarás”, ele tornou ainda mais profundo e “cheio” o sentido deles. Pois quando os Rabis diziam: - “não transgredimos a lei”, Jesus então ripostava: quem odeia seu irmão já é considerado por Deus como um assassino. A mesma coisa com os demais mandamentos, a exemplo do “não adulterarás”, pois quem adultera não é só aquele que já partiu para a ação, mas também o que já sente ou pensa algo a respeito.

                    E deste modo, ao nunca odiar, agir ou pensar qualquer pecado, Ele efetivamente cumpriu por Si mesmo e de modo pleno toda a Lei. Coisa que ser humano algum poderia fazer mediante os seus próprios esforços. Daí carecermos constantemente da Sua Graça.

                    CHARLES H. SPURGEON (célebre pregador batista), em um sermão pregado em Londres, em 1898 e publicado na íntegra no jornal australiano Melbourne Age, disse claramente com relação ao Decálogo:

“A lei de Deus é perpétua. Nela não se admite ab-rogação ou correção. Não deve ser alterada ou ajustada à nossa condição pecaminosa: mas cada um dos justos preceitos do Senhor permanece para sempre... Para mostrar que Ele jamais pensou e ab-rogar a lei, nosso Senhor Jesus exemplificou todos os seus preceitos em Sua própria vida”.
                    
                    “Mais ainda. Esse mesmo pregador de fama mundial, em seu célebre sermão publicado The Perpetuity of the Law of god (A Perpetuidade da Lei de Deus), págs. 4 e 5, diz:

“Jesus não veio para mudar a lei, mas sim para explicá-la, e justamente por essa circunstância mostra que ela permanece; visto não haver necessidade de explicar o que é abolido. Com essa exemplificação, Ele a confirmou”.
 “Se alguém me diz: ‘Eis que em substituição aos Dez Mandamentos recebemos dois, que são muito mais fáceis, responder-lhe-ei que essa versão da lei não é de maneira alguma mais fácil. Uma tal observação implica falta de meditação e experiência. Esses dois preceitos abrangem os dez, em seu mais amplo sentido, não podendo ser considerados exclusão de um jota ou til dos mesmos’”. 

SOMOS SALVOS UNICAMENTE PELA GRAÇA
                    
Bem sabemos do perigo do legalismo, pois, conforme plenamente sabemos, é impossível ao homem natural obedecer a Deus por suas próprias forças. Deste modo a Lei de Jeová, por ser tão Santa, sempre irá condenar o homem, independentemente de qualquer esforço seu em tentar obedecê-la (Isaías 64:6). E este foi o sentido empregado pelo apóstolo ao nos dizer “a letra mata, mas o espírito vivifica (2 Coríntios 3:6)”; todavia, este mesmo apóstolo nos dá a seguinte conclusão final: “E daí? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, e sim da graça? De modo nenhum!” (Romanos 6:15 RA).

Digo isso porque muitos evangélicos também citam a expressão de Paulo – “não estamos debaixo da lei” (Rm 6:14-15; Gál 5:18) como querendo significar que a lei moral foi abolida.

                    Contudo, considerando todo o contexto das epístolas de S. Paulo, o que insofismavelmente se depreende é que a expressão “debaixo da lei” significaria “debaixo da condenação da lei”. Não estar debaixo da lei, deste modo, não quer dizer estar desobrigado de cumpri-la, mas sim não ser culpado de sua transgressão. A única maneira de não estarmos debaixo da lei é cumpri-la. Se transgredirmos uma lei, incorremos em multa, prisão, ou qualquer punição enfim.

                    “A graça divina não erradica a lei dando ao homem licença para pecar. Isto é amplamente expresso em Romanos 6-8”.

                    “O texto diz que não estamos debaixo da “maldição da lei”. Isto quer dizer que não estamos debaixo da “condenação” da mesma, que é a morte eterna. Note que Paulo fala que fomos libertados da maldição (morte) e não da guarda. Devemos obedecer aos mandamentos não para sermos salvos, pois a graça de Jesus nos salvou; mas sim, obedecer por amor, demonstrando que aceitamos tal salvação. A obediência por amor demonstra o tipo de fé que temos, se é uma fé forte e verdadeira (pela obediência) ou se é fraca e falsa (pela desobediência)”.

                    O próprio Apóstolo Paulo disse que “tinha prazer na lei de Deus” (Romanos 7:22).

SEMPRE MANTENHAMOS A VONTADE DO ESPÍRITO EM PRIMEIRO LUGAR
                    
                    Alguns irmãos dizem ainda que não devemos dar tanta atenção à Lei divina (ou mesmo à bíblia!), pois o que importaria mesmo seria apenas seguir o Espírito. Contudo, olvidam que é o próprio Espírito que veio nos convencer “do pecado, da justiça e do Juízo” (Jo 16:8), e, como o pecado é a transgressão da Sua Lei, é óbvio que não poderíamos sequer ser convencidos da nossa atual condição pecaminosa sem ela. E por decorrência lógica, nem mesmo existiriam mais pecadores, vez que não seria possível transgredir uma lei que não mais exista. E se continuarmos ainda nesse raciocínio tortuoso, pelo fato de não mais existirem pecadores, também não mais precisaríamos de um Salvador. Concluímos que os adeptos de teorias que menosprezam a lei divina, acabam, inequivocamente, por desembocar num velado desprezo pela salvação ofertada por intermédio do Senhor Jesus Cristo.

SE A LEI NÃO NOS SALVA, ENTÃO QUAL É A SUA REAL FUNÇÃO?
                    
                    Em Romanos 3:19, 20 Paulo diz que não somos salvos pela lei porque a função dela é nos dar conhecimento de que somos pecadores. Essa função da lei é novamente apresentada pelo apóstolo em Romanos 7:7.

Podemos comparar a lei a um espelho. Quando estamos com nosso rosto sujo, vamos ao espelho a fim dele nos mostrar onde está a sujeira. Se não tivéssemos o espelho, não saberíamos que estamos sujos. O espelho não limpa; apenas mostra onde estamos sujos; quem limpa é a água.

                    O mesmo se dá com a lei. Ela serve para nos mostrar o pecado, mas não limpa. Quem limpa é Jesus Cristo através de sua graça.

                    Assim como ao nos limparmos não devemos jogar fora o espelho após ele nos mostrar a sujeira, não devemos jogar fora lei após ela nos mostrar a sujeira do pecado. Se o fizermos, não teremos mais o espelho que nos mostra onde está o pecado para podermos ir a Cristo, que nos limpa do pecado.

                    O próprio Apóstolo Paulo disse que a “lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom” e que tinha prazer nela (Romanos 7:12 e 22).

                    E nós todos concordamos que S. Paulo jamais foi contra a lei de Deus; era contra sim a forma errada como muitos judaizantes a guardavam. A lei, quando colocada em seu devido lugar (não como meio de salvação mais sim como um guia de conduta que nos orienta e um espelho que nos mostra nossa condição pecaminosa para que possamos ir a Cristo e ser salvos – ver Gl 3:24), é uma bênção. Faço minha a conclusão do Apóstolo Paulo sobre o assunto:

                    “Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo” (1 Timóteo 1:8 RA).

                    Em outras palavras, nós nunca deveremos tentar seguir a Lei objetivando “ganhar” o Espírito. Pois ao proceder deste modo estaríamos, invariavelmente, sendo condenados pela mesma lei. Somente quando o Espírito habita em nós e então nos purifica, é que nos tornamos então aptos a produzir os frutos do Espírito na exata medida em que permanecermos ligados a Ele.

A LEI É ALGO CRIADO POR DEUS?
                    
                    Outra coisa que alguns irmãos da igreja batista de Vancouver estavam tentando me explicar foi que Jesus havia “criado” a Lei, e, justamente por essa razão, não faria sentido que ele estivesse subordinado à mesma, no sentido de dever também obedecê-la quando “a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens”. Mas não concordo que a real natureza da Lei do Pai (e de Jesus, pois ambos são UM) possa ser explicada em termos tão simplórios.

                    Deus não poderia ter “criado” uma Lei Eterna; seria até mesmo ilógico o mero ato de se cogitar quanto a esta hipótese, pois se algo é Eterno, o é assim justamente porque nunca teve início nem jamais terá fim. E sabemos que Deus é o único que é eterno e imortal (1 Timóteo 6:16). E ao desvelar o atributo da eternidade da Sua Santa Lei – “A tua justiça é justiça eterna, e a tua lei é a própria verdade”. (Salmos 119:142 RA) – outra coisa não fez o SENHOR senão vinculá-la inerentemente à Sua própria natureza imutável e divina. Portanto, não poderia jamais ter sido criada.

                    Digo isso por presumir a probabilidade de um mal entendido entre nós quanto à inteligência deste tema, vez que o significado de Lei por mim pretendido foi no sentido dela ser uma expressão sinônima do caráter do próprio Deus. E este caráter, por ser o segredo e a fonte do mais exaltado e Sublime Amor, não precisaria necessariamente ser declarado por um ato “Legislativo” ou meramente formal.

                    E estas coisas são assim porque os insofismáveis atributos de Amor, Justiça e Benignidade ou Bondade do Criador (Seu caráter) não dependeriam, para que pudessem ser manifestos aos seres criados, de qualquer “esclarecimento formal” que esse mesmo Criador resolvesse, nalgum ponto da eternidade, tornar de forma peculiarmente manifesta às suas criaturas.

A título meramente ilustrativo, permita-me realizar uma rude comparação. Imagine que você tenha recentemente criado uma conta no facebook. Ocorre que nesse site é facultado o preenchimento de um “perfil” do usuário, de modo que os demais internautas possam melhor conhecer uns ao outros. E essas coisas são assim em decorrência do elemento da alteridade, o qual é imanente às relações humanas.

Então lá está você, disposto(a) a que outros, que nunca o viram em pessoa anteriormente, possam ter algum vislumbre do seu ser. E assim começa então a digitar a melhor descrição passível de ser feita a respeito da sua pessoa, gostos, hábitos, preferências e atribuições.

                    E a realidade objeto desse ato descritivo, a qual não é senão o seu próprio caráter, certamente já era preexistente desde o começo, independendo, portanto, de que nalgum dia você viesse a decidir torná-la então manifesta por um ato escrito meramente formal. Mas a despeito da feição meramente representativa do ato, por este exprimir alguns dos mais radiantes traços do seu caráter, tais como o carinho pela sua família e o indizível amor pela sua descendência, seria então com o mais profundo pesar que você observaria a destruição e contradição a tudo que você mais ama e se alegra tal como expressamente descrito nesse perfil.

                    Nele ali estariam, expressos em palavras, as mais profundas convicções da tua alma: - “que não me desamparem os meus amados”; “que não machuquem aqueles a quem mais quero bem”. E certamente que a ofensa ao menor desses preceitos reveladores que são do teu humano amor, seria reputada como a mais angustiante traição, digna de toda a tua indignação.

                    A mesma coisa ocorre com o nosso Criador. Sua perfeição de caráter e benignidade teve de ser “formalmente” descrita no monte Sinai porque os israelitas, em decorrência de terem sido escravizados no Egito através de muitas gerações, acabaram por se tornar, em virtude disso, grandemente embrutecidos; e por terem sido assim tratados, desde a infância, como animais, viviam então como animais. Desconheciam, portanto, aquele tipo de sensibilidade moral mais desenvolvida que atualmente possuímos por não termos sido, dentre outros fatores, escravos de outra nação.

                    Daí nosso Deus ter julgado pertinente “relembrá-los” da Sua perfeita Bondade mediante o ato de gravar em tábuas de pedra, e numa linguagem que eles pudessem entender até então, aquilo que seria a descrição – em sinais humanos – da Sua Glória. Moisés pediu ao Senhor para que visivelmente lhe manifestasse essa glória, ao que o SENHOR respondeu: “Farei passar toda a minha bondade diante de ti” (Êxodo 33:19). E ainda dentro da mesma solene ocasião e nesse mesmo contexto fático foi quando então o SENHOR entregou a Sua Lei escrita à humanidade. Ela representa a Sua Glória. Explicando melhor, não foi a bondade ou o caráter do Deus eterno, ontologicamente considerado, o que foi gravado na matéria mineral sólida; pois não se pode tomar o símbolo em lugar da realidade para a qual o mesmo aponta.

                    Vemos assim que os Dez Mandamentos, a despeito de toda a aparente formalidade que os impregna, não é senão uma revelação de quão Maravilhosa e Benigna é a Personalidade imutável do nosso Deus e Redentor. Isso porque assim como Ele não mata, não rouba, não adultera (ou seja, não é infiel) e assim por diante, de igual maneira é que Ele deseja que reflitamos esse maravilhoso amor, o qual já é agora perfeitamente manifesto na Glória que resplandece da face de nosso Senhor Jesus Cristo.

                    Deste modo, assim como a superfície de um lago reflete os radiantes raios de sol, de igual maneira devemos nós cristãos também refletir os brilhantes raios do Sol de toda Justiça, Benignidade e Retidão.

                    Para ilustrar este ponto, refiro-me a um acontecimento histórico interessante. É sabido que os discípulos de Aristóteles costumavam segui-lo enquanto ele saía nas suas habituais caminhadas, e o faziam de tal maneira que até mesmo peculiaridades do seu jeito de andar e gesticular eram, pelo caminho, fielmente imitados e reproduzidos em si mesmos. Por isso lhes foram dados o nome de peripatéticos, pois seguiam exatamente nas pegadas do seu mestre.

                    E se meros seguidores de vãs filosofias assim procediam, quanto mais nós, cristãos, deveríamos então buscar refletir o mais fielmente possível em nossas vidas a dAquele a quem chamamos de Senhor. Ele é o nosso perfeito Modelo. Ele é, verdadeiramente, o Homem que é a medida de todas as coisas.

                    É por isso que não discordo que o seguir o Espírito do nosso Senhor Jesus Cristo, sincronizando-se ao Seu ritmo os nossos passos (tal como soldados enfileirados enquanto marcham de forma impecavelmente cadenciada ante a sublime entoação do hino da sua nação) é a verdadeira forma de adoração e exemplificação em nós mesmos da virtuosa vida de Jesus. E como sabemos que Deus não muda (Malaquias 3:6), também não poderia ser modificada a realidade para a qual o “signo” corporificado nos Dez Mandamentos aponta: a Verdade encarnada.

                    Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o Universo” (Hebreus 1:1, 2).

                    E onde poderemos conhecer mais dessa Verdade ora aqui anunciada? Respondeu-nos o próprio Verbo Eterno encarnado: "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade". (João 17:17).

                    “Em Sua palavra, Deus conferiu aos homens o conhecimento necessário à Salvação. As Santas Escrituras devem ser aceitas como autorizada e infalível revelação da Sua vontade. Elas são a norma do caráter, o revelador das doutrinas, o teste para avaliar a experiência religiosa. `Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra´. (2 Timóteo 3:16, 17)”.

                    E para encerrar a postagem de hoje, quando eu disse que não “obedecemos a Lei para sermos salvos, mas a obedecemos justamente por estarmos assim já salvos”, o que eu quis realmente dizer, traduzindo conforme o mais elaborado raciocínio acima é que, pelo fato dos cristãos que seguem o verdadeiro ritmo do Espírito já possuírem estampados nas suas mentes o glorioso caráter de nosso Senhor, seria apenas uma decorrência lógica que eles então extravasassem esse divino amor a si concedidos (extravasamento este cujo corolário seriam os “frutos do Espírito”) numa conduta à semelhança de Cristo, com a realização das mesmas obras que Ele realizara enquanto vivera na terra como o Deus Conosco, Emanuel.