Alguns irmãos enxergam no sábado algo triste, como um mandamento para um dia específico da semana consistente tão-só na adoção de comportamentos restritivos, que nos acarretassem desprazer. E finalizam dizendo que seria “uma tortura e uma prisão e não um presente que devêssemos apreciar”. Mas haveria alguma verdade nessas asserções? O que nos diz o Filho do Homem a este respeito?
Eu
creio que contrastaria diretamente com a vontade de Jesus se o considerássemos
como um dia de meras restrições, no sentido de devermos nos comportar de uma
determinada maneira, seguindo regras específicas que não tenham nada a ver com
o verdadeiramente ordenado pelo Senhor e exemplificado em Sua vida.
Sob este aspecto,
quando percebemos que a sua guarda implicaria numa tortura ou numa prisão, isso
estaria fora do espírito de alegria e regozijo que o SENHOR, mesmo no Éden,
estabelecera para o mesmo (afinal, Ele deseja que proclamemos tal dia como
“deleitoso” e “digno de honra” – Isaías 58:13). Podemos extrair semelhante
entendimento até mesmo de documentos oficiais constantes de modernas
denominações religiosas, as quais firmemente propugnam pela guarda do domingo,
a exemplo do “Dicionário de Teologia”, editado por Heinrich Fries, publicado
pelas “Edições Loyola” (católica), textualmente:
“Os escritos apócrifos e sobretudo
os rabínicos apresentam uma interpretação exageradamente severa do descanso do
sábado, perdendo-se um uma casuística sutilíssima e transformando o ‘sábado
maravilhoso’ (Isa. 58:13) num peso insuportável. (…) Jesus opôs energicamente
às interpretações extremamente escrupulosas dos escribas e fariseus, e mais de
uma vez provocou propositalmente discussões sobre este ponto (Mat. 12:10-14;
Luc. 13:10-17; 14:1-6; João 5:8-18). (…) Jesus considerava o mandamento do
sábado com grande liberdade interior, e recusava resolutamente aquela rigorosa
observância que escribas e fariseus exigiam.” — Vol. 3, p. 134 e 115.
Para melhor compreendermos a real natureza
do Sábado, é preciso que voltemos os nossos olhos para o dia imediatamente
seguinte ao da criação da humanidade. Deus, o Verbo Eterno Jesus, passou um dia
completo com o casal recém-criado. Foi um dia de indescritível alegria e honra
sem precedentes para o par. Aquele que os criara se dispôs a encetar uma
relação de companheirismo direta com os seres humanos, caminhando junto com
eles e Se deleitando em estar na sua companhia e lhes descortinando as
maravilhosas obras das Suas mãos, as quais por amor a eles foram então tão
extraordinariamente concluídas. A terra toda ecoava o Sua divina bondade e uma
preocupação “perfeccionista”, nos mínimos detalhes, para conosco.
Vemos também que na medida em
que Deus fora criando o planeta, a cada etapa principal da Criação concluída,
Ele então clamava que “estava tudo muito bom”. E dentre essa diversidade de
coisas criadas em benefício do homem se pode incluir o próprio ar que
respiramos. Mas atente que Jesus não abençoou solenemente o “ar” e o separou
como algo distintamente sagrado, isso a despeito de saber que sem o oxigênio
nele presente nenhuma das Suas criaturas poderia continuar vivendo. A primeira
e única vez que o SENHOR tão solene e distintamente se manifestara a respeito
de algo por Si mesmo instituído fora com relação à instituição do Seu sábado.
Observe que o Sábado é DEle, mas não obstante fora assim santificado e separado
para o benefício da coroa da Sua criação, a humanidade.
E por ter sido de forma tão marcantemente
enfatizada por Ele – ao longo de todas as Escrituras sagradas – a importância
de continuarmos atentando para a solenidade desse santo dia, mesmo após a queda
da humanidade, é mui temerário que não atentemos para os Seus reclamos e
compreendamos o que verdadeiramente signifique o ato de descansar, junto com
Ele, no dia que representa o aniversário da criação do nosso planeta.
E nesse “aniversário”,
nessa data comemorativa tão especial, Jesus nos convida para adentrarmos no
“asilo” por Ele erigido no tempo e espaço a fim de restaurarmos as nossas
energias físicas e espirituais despendidas com as inúmeras labutas seculares do
dia a dia.
O Sábado, sob este prisma,
é um grande presente de Deus para nós, na medida em que nos permite passar um
dia especialmente separado, abençoado e em perfeito e pleno companheirismo com
o nosso Senhor e Salvador ao longo da sucessão das eras sem fim. E sabemos que
mesmo na eternidade, após o retorno glorioso de Jesus, ainda o guardaremos, Ipsis Litteris:
“Porque, como os novos céus e a nova terra,
que hei de fazer, estarão diante de mim, diz o SENHOR, assim há de estar a
vossa posteridade e o vosso nome. E será
que, de uma Festa da Lua Nova à outra e de um sábado a outro, virá
toda a carne a adorar perante mim, diz o SENHOR”. (Isaías 66:22-23 RA)
Mateus 12 contém uma vívida
exemplificação do companheirismo que deve existir entre Jesus e seus seguidores
no Seu santo dia. Estavam os discípulos a caminhar entretidos numa alegre e
santa comunhão com o seu Senhor quando, repentinamente, apareceram alguns
judeus legalistas a censurar o procedimento DAquele que houvera sido o próprio
instituidor do mandamento a respeito do qual estaria supostamente violando.
Quanta presunção humana! Intentavam aferir o comportamento divino mediante
critérios puramente humanos. Pautavam-se por normas que tornavam a guarda do
sábado excessivamente enfadonha e triste, quando o Senhor nada houvera dito a
esse respeito.
Não foi por outra razão que
o Criador, quando velada Sua Glória Divina por ocasião da Sua primeira vinda,
declarou que aqueles que procediam desta maneira legalista, tal como os
fariseus, “estariam tão
só honrando-o com os lábios, mas
tendo, a despeito disso, os seus corações longe dEle. E em vão assim o adoravam, prosseguia dizendo o Salvador, ao
persistentemente ensinarem doutrinas que não seriam outra
coisa a não ser meros preceitos ou regras inventadas por homens” (Mateus
15:8, 9).
Confirmando este
entendimento acima, temos o “Catecismo da Igreja Católica”, em citação indireta
no “Dicionário Bíblico”, de John L. Mckenzie, publicado pelas “Edições
Paulinas” (católica), in verbis:
“O Evangelho relata numerosos incidentes em
que Jesus é acusado de violar a lei do sábado. Mas Jesus nunca profana a
santidade desse dia. (Cf. Mar. 1:21; João 9:16). Dá-nos com autoridade a sua
autêntica interpretação”. — P. 495.
Ainda mais uma
contribuição de John L. Mckenzie, no seu “Dicionário Bíblico”, nos reforça a
compreensão desse assunto, quando registra:
“Sem rejeitar a observância do sábado no seu
conjunto, Jesus salienta que as práticas rabínicas eram meras interpretações
humanas do preceito, que é basicamente para o bem humano.” — P. 811.
Deste
modo, mesmo sendo acusado, pelos escribas e fariseus da Sua época, e por alguns
religiosos modernos, o Catecismo assegura que “JESUS NUNCA PROFANA A SANTIDADE
DESSE DIA”[1].
Mantenhamo-nos, portanto,
firmemente alicerçados na Sua Palavra, e é o próprio Verbo eterno quem nos
declara: "Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos
mando?" (Lc 6.47) "De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Tema a Deus
e guarda os seus mandamentos; porque isso é o dever de todo homem" (Ec
12.13).
Ora, e os Seus mandamentos
não são penosos! Não podemos nos esquecer de que Ele é o nosso Pai, e lhe
devemos obediência da mesma forma que requeremos que os nossos filhos e filhas
também nos obedeçam. A única diferença é que os Seus mandamentos são sempre
justos e verdadeiros, vez que, contrariamente a esta realidade, podemos, como
falíveis seres humanos, ainda cometer injustiças.
E o próprio apóstolo Paulo
declara que o 5º mandamento do decálogo é válido mesmo após a ressurreição de
Jesus, conforme nos diz: "Honra a
teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa” (Efésios
6:2). E se devemos honrar a nossos pais terrenos, quanto mais ao nosso Pai
Celestial!
Contudo, desonramos a esse
mesmo Pai quando, ao pôr do sol de sexta-feira, recusamos entrada especial ao
divino hóspede em nosso lar, para que Ele possa comungar conosco num
companheirismo assim especialmente estabelecido e especificamente delimitado no
tempo mediante a Sua própria autoridade.
E se nem mesmo a um amigo
comum dizemos que a sua visita nos seria uma tortura e uma prisão, contudo, em
ações manifestamos justamente o contrário quando a questão envolva o especial
companheirismo que o Filho de Deus requer de nós no dia em que este mundo tem o
seu aniversário.
É verdade que quando um
“colega” nos dá o presente de uma visita, não podemos mais andar com “trajes
íntimos” na sua presença, nem proferir palavras que só teríamos coragem estando
a sós ou mesmo entre os do lar. Mas são “restrições” mais que recompensadoras
na medida em que possamos desfrutar e nos deleitar da companhia de uma alma
muito amada e que nos concedeu a bondade de vir assim nos visitar.
Nada obstante, devemos
reconhecer que a visita de um Deus, que é tremendamente Santo, certamente
causaria uma angustiante sensação para alguém que não esteja em perfeita
sintonia com a Sua Soberana vontade. Até mesmo os santos anjos, ao proferirem o
Seu Santo nome, velam os seus rostos em respeitoso temor e solene admiração.
Não é humanamente possível
se regozijar em coisas que conflitem com a natureza interior do velho homem não
santificado. A dificuldade reside justamente aí, no velho eu egoísta e
independente de Deus, que já nasce naturalmente inclinado para as coisas más
deste mundo, e que desesperadamente tenta fugir e se esconder do Criador quando
ouve a Sua voz, mansa e delicada, a lhe chamar – Minha filha, meu filho, “Onde estás?”
E quando esse homem ou
mulher a quem o compassivo Salvador hoje está agora a chamar, humildemente vai
ao Seu encontro e, em contrição e arrependimento, pleiteia que os méritos do
Senhor Jesus os cubram tal como um manto, então um milagre acontece, pois "Ele é fiel e justo para nos perdoar os
pecados, e nos purificar de toda a injustiça." (1 João 1:9).
A antiga inimizade para com
Deus é deste modo derribada, "Porque
Deus, que disse: `Que da escuridão brilhe a luz´ é o mesmo que fez a luz
brilhar no nosso coração. E isso para nos trazer a luz do conhecimento da
glória de Deus, que brilha no rosto de Jesus Cristo." (2 coríntios
4:6).
Mas com isso não quero
dizer que você esteja na condição de alguém que não fora ainda a Jesus e nem
que não o conheça. As linhas acimas tratam de um apelo que Deus faz a toda a
humanidade pecadora (para os que até agora não o tenham aceitado).
O que quero lhe dizer é que
o processo da santificação é algo progressivo. Não se opera num segundo, mas
sim que leva certo tempo para o Espírito Santo concluir a obra que iniciara no
sentido de nos transformar à semelhança do glorioso caráter de Cristo Jesus,
nosso Senhor. Mas como Deus não opera contra a nossa vontade, é preciso que a
cada dia renovemos nosso ato de entrega a Ele de todo o nosso corpo e mente, "até que todos cheguemos à unidade da fé e do
pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da
estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos,
agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina,
pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro."
(Efésios 4:13, 14)
Fechando esta linha de
raciocínio, me parece pertinente uma ligeira alusão às palavras de um bem
conceituado irmão nosso, o pastor Dave Hunt, verbis:
A cruz é o lugar onde nós morremos em Cristo
Eis
o "x" da questão. O evangelho foi concebido para fazer com o eu
aquilo que a cruz fazia com aqueles que nela eram postos: matar completamente.
Essa é a boa notícia na qual Paulo exultava: "Estou crucificado com
Cristo". A cruz não é uma saída de incêndio pela qual escapamos do
inferno para o céu, mas é um lugar onde nós morremos em Cristo. É só então que
podemos experimentar "o poder da sua ressurreição" (Fp 3.10),
pois apenas mortos podem ser ressuscitados. Que alegria isso traz para aqueles
que há tempo anelam escapar do mal de seus próprios corações e vidas; e que
fanatismo isso aparenta ser para aqueles que desejam se apegar ao eu e que,
portanto, pregam o evangelho que Tozer chamou de "nova cruz".
Paulo declarou que, em Cristo, o crente
está crucificado para o mundo e o mundo para ele (Gl 6.14). É linguagem bem
forte! Este mundo odiou e crucificou o Senhor a quem nós amamos – e, através
desse ato, crucificou a nós também. Nós assumimos uma posição com Cristo. Que o
mundo faça conosco o que fez com Ele, se assim quiser, mas fato é que jamais
nos associaremos ao mundo em suas concupiscências e ambições egoístas, em seus
padrões perversos, em sua determinação orgulhosa de construir uma utopia sem Deus
e em seu desprezo pela eternidade.
Crer em
Cristo pressupõe admitir que a morte que Ele suportou em nosso lugar era
exatamente o que merecíamos. Quando Cristo morreu, portanto, nós morremos nEle:
"...julgando nós isto: um morreu por todos, logo todos morreram. E ele
morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para
aquele que por eles morreu e ressuscitou" (2 Co 5.14-15).
"Mas
eu não estou morto", é a reação veemente. "O eu ainda está bem
vivo." Paulo também reconheceu isso: "...não faço o bem que
prefiro, mas o mal que não quero, esse faço" (Rm 7.19). Então, o que é
que "estou crucificado com Cristo" realmente significa na vida
diária? Não significa que estamos automaticamente "mortos para o
pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus" (Rm 6.11). Ainda
possuímos uma vontade e ainda temos escolhas a fazer.
O poder sobre o pecado
Então,
qual é o poder que o cristão tem sobre o pecado que o budista ou o bom
moralista não possui? Primeiramente, temos paz com Deus "pelo sangue da
sua cruz" (Cl 1.20). A penalidade foi paga por completo; assim sendo,
nós não tentamos mais viver uma vida reta por causa do medo de, de outra sorte,
sermos condenados, mas sim por amor Àquele que nos salvou. "Nós amamos
porque ele nos amou primeiro" (1 Jo 4.19); e o amor leva quem ama a
agradar o Amado, não importa o preço. "Se alguém me ama, guardará a
minha palavra" (Jo 14.23), disse o nosso Senhor. Quanto mais
contemplamos a cruz e meditamos acerca do preço que nosso Senhor pagou por
nossa redenção, mais haveremos de amá-lO; e quanto mais O amarmos, mais
desejaremos agradá-lO.
Em
segundo lugar, ao invés de "dar duro" para vencer o pecado, aceitamos
pela fé que morremos em Cristo. Homens mortos não podem ser tentados. Nossa fé
não está colocada em nossa capacidade de agirmos como pessoas crucificadas mas
sim no fato de que Cristo foi crucificado de uma vez por todas, em pagamento
completo por nossos pecados.
Em terceiro lugar, depois de declarar que
estava "crucificado com Cristo", Paulo acrescentou: "logo, já
não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na
carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por
mim" (Gl 2.20). O justo "viverá por fé" (Rm 1.17; Gl 3.11;
Hb 10.38) em Cristo; mas o não-crente só pode colocar sua fé em si mesmo ou em
algum programa de auto-ajuda, ou ainda num guru desses bem esquisitos[2].
[1]
Cf. WILL, Marllington K. O QUE A IGREJA CATÓLICA DIZ SOBRE A LEI E O SÁBADO?.
Sétimo dia, S.l., s. d. Disponível em: <
http://setimodia.wordpress.com/2010/01/07/o-que-diz-a-igreja-catolica-sobre-a-lei-e-o-sabado/>
Acesso em 07 Jul. 2013.
[2]
Cf. HUNT, Dave. A FINALIDADE DA CRUZ. Chamada.com.br, S.l., s. d. Disponível
em: < http://www.chamada.com.br/mensagens/cruz.html> Acesso em 12 Jul.
2013.
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